O Globo, Brazil – 14/2/2012

Daniela Kresch* – O Globo

TEL AVIV — O advogado George Pagoulatos, diretor de Planejamento Estratégico do gabinete do premier Lucas Papademos e professor da Universidade de Atenas, não tem ilusões sobre uma solução rápida e fácil para a Grécia. Ele admite que as medidas do governo vão aprofundar a recessão.

O GLOBO: O premier Lucas Papademos disse que a aprovação do duro pacote econômico era a “única solução realista” contra a crise. O senhor concorda?

GEORGE PAGOULATOS: Sim. O pacote inclui políticas muito dolorosas, mas que permitirão um ajuste estrutural. Foi endossado por dois terços do Parlamento, apesar do custo político. O povo grego está comprometido em defender sua posição na zona do euro e sair dessa crise.

O GLOBO: Como o governo pode fazer com que os gregos voltem a acreditar no futuro e realmente lutem por seu lugar na zona do euro?

PAGOULATOS: Aguentando firme e mantendo o esforço. Estamos cientes de que não haverá resultados a curto prazo. Vai levar diversos anos para que a Grécia volte a ter taxas de crescimento positivas.

O GLOBO: O senhor acha que os gregos serão pacientes para esperar que esse processo dê frutos? Há protestos violentos nas ruas…

PAGOULATOS: Protestos pacíficos são expressões legítimas do sentimento público. Há dezenas de milhares de pessoas protestando pacificamente nas ruas, trabalhadores, sindicatos, partidos de oposição… Uma democracia tem de receber com satisfação esse tipo de protesto. Já os violentos são obra de grupos radicais isolados, criticados por todos.

O GLOBO: Mas a mídia mostra incessantemente cenas de quebra-quebra, como se todo a sociedade grega estivesse insatisfeita.

PAGOULATOS: É uma deturpação. Não quero criar uma impressão falsa: a sociedade grega está chegando a seu limite de tolerância. Foram dois anos extremamente terríveis. Mas mostrar só a violência é uma falácia.

O GLOBO: Como o senhor vê o tratamento dispensado à Grécia pela União Europeia?

PAGOULATOS: Acho que a UE está apoiando a Grécia com uma mistura de disciplina, austeridade e solidariedade. A zona do euro está lidando com a crise da maneira certa, com a ideia de transformar o bloco numa verdadeira união econômica, não apenas monetária. A zona do euro sairá da crise fortalecida e intacta.

O GLOBO: O Brasil já enfrentou recessão e ajuste econômico e fiscal. O senhor acha que o país pode ajudar a Grécia neste momento?

PAGOULATOS: O Brasil serve de inspiração por ter passado por uma crise muito séria. Agora é uma das economias emergentes mais bem-sucedidas dos últimos anos. Só podemos sonhar com esse futuro para a Grécia.

* Especial para O GLOBO

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